TRADIÇÃO

Jurema Chaves

 

A pampa calma dormia

E eu , que admirava,

A leve brisa soprava,

Brincando com vagalumes,

Que fazia, por ciúmes,

Num, apaga esconde-esconde,

Sussurros.  Não sei de onde.

Se era a lua com ciúme.

 

Ciúmes da estrela d´Alva

Que se espelhava nas águas

Do trovador, cujas máguas,

Desabafava no pinho

A dor de viver sozinho

Rodeado pela beleza

No trono da natureza

Cantando igual passarinho.

 

Pássaros, vozes da mata,

Numa orquestra tão perfeita

Que o alvorecer enfeita,

São razões, de eu amar tanto,

A vida simples do campo

Onde volto a ser criança

Cada dia é uma esperança

Cada saudade é um canto.

 

Canto pleno de ternura

Cheirando terra molhada,

E na campina orvalhada

Galopa a minha ilusão

Repontando a emoção

Pisando o solo gaúcho,

Povo altaneiro, sem luxo,

Que cultiva a tradição.

 

Tradição, alma de um povo,

Avante nossa cultura

As nossas raízes puras

Jamais se apagarão.

O nosso fogo de chão

chaleira preta e cambona

o trovador e a cordeona

e as rodas de chimarrão.

 

Chimarrão, seiva nativa,

Tu és hospitalidade,

Companheiro da saudade

Amigo da solidão,

Quando pousas em minha mão

Parece falar comigo

Como a entender o que digo

Consola meu coração.

 

Coração que não esquece

A prenda que foi embora,

Levando naquela hora

O meu cantar de alegria

E quando amanhece o dia

Ainda estou acordado,

Ao violão, abraçado,

Pra afastar a nostalgia.

 

É nostalgia, é beleza,

Do sol que vai se sumindo.

A noite. O pampa cobrindo,

Num poncho todo bordado,

E o pago dorme embalado

Ao murmúrio de cascata

A lua abraçando a mata

Este é o Rio Grande Sagrado.