Sonhos Partidos
Jurema Chaves
Já sei o que farei desses
momentos
Como guardarei o teu sorriso
E do meu sonho em flor, despetalado
Juntarei cada pétala, uma a uma
Mesclando um buquê, todo perfume
Entrelaçando com estrelas delicadas
E enviarei a ti, lá, pela madrugada...
Quando a noite pintalgar-se
E
Estarei pousando em teu olhar
Transcendendo num toque de magia
Sentirás, quem sabe, a lágrima caída
Que o tempo, sem dó, cristalizou
Entre os meus olhos e os lábios teus
No momento cruel da despedida
E enrodilhou-se pela face enternecida
Perpetuando o beijo que foi nosso adeus
Tu pensarás em mim, tenho certeza
Sentirás minha alma rediviva
Plena de ternura, como outrora
Antes de partires, de ires embora
Levando contigo o melhor de mim
Deixando somente meus sonhos, partidos
Meus versos, perdidos, guardando segredos
Debatendo-se entre as ondas e o rochedo
Como um barquinho de papel jogado ao mar
Eu sei, compreendo - não foi culpa tua
Se o teu olhar, iludindo a lua
Derramou luzes sobre o rosto meu
Reacendendo chamas de esperanças
De
E esse amor com gosto de eternidade
Explodiu, enfim!
Mas, o tempo voa e eu perdi a passagem
Cheguei atrasada para os teus abraços
Vou juntar meus cacos e seguir viagem
Meu sonho partiu-se em três mil pedaços
Se não mereci os teus olhos lindos
Respingos de luz que a noite esqueceu
Vou embalsamar tua voz macia
Para sonorizar as horas vazias
Em eterna melodia que levarei comigo
Farei da poesia o meu abrigo
Quando o poncho da saudade me envolver
Será tão difícil ficar, e partir
Voltar, sem ter ido, perder sem ter tido
Esse anjo menino, de homem vestido
Que pousou distraído nos caminhos meus
Trazendo nos braços toda a paz do mundo
E no olhar, encantos que iluminam os céus
Quisera voar, engolir lonjuras
Levando ternuras que guardei pra ti
Ao buscar tanto querer, busquei o nada
As mãos vazias, a alma machucada
A fingir sorrisos, disfarçando a dor
Ao perder o que não tive, gargalhei soluços
Quando em rebuços implorava amor
Um pouco apenas, já que
tinhas tanto
Algumas gotas somente, nada mais
Alguns momentos de sublimidade
Para que tivesse razão de ser, essa saudade
Que me rouba o sono, e me tira a paz
Mas estarás comigo em meus devaneios
Bordando poemas de ternura
Sublimando, assim, o que existe
E
Tua alma se solte da garganta
E venha juntar-se à canção da minha voz
Eu quisera tanto fazer mil cantigas
Eternizando a vida nesse encantamento
Que farei agora, se nesse momento
Reaprendo a vida, procurando espaços
E não me encontro em lugar nenhum
Que estranhos descaminhos nos separam
Que sortilégio é esse que nos aprisiona
Na clausura indelével da saudade
Onde a esperança, aos poucos, vai mermando
E desse amor imenso, maior que o universo
Resta-me somente esse pobre verso
Que na despedida escrevi chorando