RASTROS E SONHOS

Jurema Chaves

 

 A uma quietude de espera

No escondido do pranto,

Que se arranchou nos recantos

De cada canto de mim,

Como a esperar o regresso

Do mais terno dos sorrisos

O madrigal mais bonito

Que a natureza escreveu,

Tocar o céu com meus dedos

A desvendar mil segredos

No doce do beijo teu!

 

Ter a ternura contida

No verde do teu olhar,

Ter o altar do teu ombro

Juntar migalhas, escombros

De sonhos despetalados

Me perder nos alambrados

Desse teu jeito de amar,

Ver o sereno chorar

Como oração do infinito

Ver nosso rancho bonito

Florindo ao te ver voltar!

 

Venha acordar o silencio

De horas mortas, vazias

Venhas bordar fantasias

No sonho á tanto esperado

Que perdeu-se desgarrado

Do teu mundo de alegria,

E espera findar o dia

Para fitar as estrelas

Na esperança de vê-las

Te repontando pra mim.

 

Quando a espora da saudade

Sangrar teu peito com ânsias,

Virás, bebendo distâncias

Nas asas do vento sul.

Como um colibri azul

Que sempre volta ao jardim

Tu, voltarás para mim

Quando setembro chegar,

Com o mesmo jeito de outrora

Os lábios rubros de aurora

Nos olhos, gotas de mar!

 

Quando lá fora o soluço

Do vento cortar o espaço

No poncho do teu abraço

Quero a saudade calada,

No ventre da madrugada

Que se desfaça, jamais!

Não chores, não digas nada

Cale num beijo a tua voz

Deixe o encanto, a magia

Em suave melodia

Fazer poemas pra nós.

 

Porque será que as lembranças

Não calam, não emudecem

Porque não desaparecem

Por entre a cruz do caminho

E a flor nascida ao acaso,

Nos rastros que se perderam

Enclausurando mistérios

No sem fim dos corredores.

 

Na cicatriz das estradas

Busco imagens repetidas

Amalgamando as partidas

De quando ontem se fez,

Quem sabe um dia, talvez

Retornes rumo do pago

Em busca do mesmo afago

Que a tua ausência calou,

Quem sabe a brisa da noite

Serena beijando luas

Bata na porta do rancho

Trazendo noticias tuas.

 

A voz do tempo sussurra

Espargindo em minha alma

Ternuras adormecidas

Como pétalas caídas

Desfalecidas, sem cor

Em esperas prenhes de agonia

Na ilusão que retornes um dia,

Pra o nosso mate de amor!