Poema de Amor Eterno

                Jurema Chaves

 

Mirando o espelho das águas
A indiazita pequena
Misto de anjo e mulher
No olhar bailava a ternura
No riso, favos de mel
Brejeirice de criança
Colibri verde-esperança
Que sublimou a emoção
Num guerreiro coração
Onde a rudeza existia
Como um toque de magia
A pedra tornou-se flor
O gelo se fez calor
Num ritual tão perfeito
Sem mágoas, sem preconceito
Fez nascer naquele peito
Um oratório de amor

Com meiguice de criança
Adorava e compreendia
Aqueles olhos guerreiros
Que ao vê-la, se desfaziam
Num canto de poesia
Que a luz divina inspirava
E o mundo se transformava
No mais terno dos enlevos -
Nos campos floriam trevos
Onde a menina passava

Que contraste fascinante
Aquela rude figura
De altivez e bravura
De guerreiro impiedoso
Que se adoçava dengoso
Naquela boca morena
A vida foi tão pequena
Pra um amor tão majestoso

Pois veio a guerra inclemente
E a indiazita inocente
Viu seu herói protetor
Fonte de vida e amor
Partir - perder-se nos longes
Cansando suas retinas
Onde lágrimas salinas
Se foram cristalizando
E o tempo perpetuando
As duas almas partidas

 

Na dor da ausência sentida
Fez dos amargos da vida
Mais motivos para amar
Em cada gota de dor
Colhia orvalho da flor
Cantando um canto de paz

Num sentimento sublime
A certeza se fazia -
Que Deus lhe devolveria
Aqueles olhos amados
Que ficaram eternizados
Em fragrâncias recolhidas
Em pedacinhos de vida
Que o céu bordava em retalhos

Com
certeza, ainda ouviria
A voz jamais esquecida -
Numa prece enternecida
Frases de amor sussurradas
Que o vento lhe entregaria
Nas dobras da madrugada

- Iverá, minha criança
Volto pra junto de ti.
Por teu amor renasci
Tua força me encontrou
Tua fé me confortou
Na frieza das batalhas
Onde o campo foi mortalha,
Descanso pra nossa gente
E o teu amor inocente
Me amparava e protegia
Como um manto de ternura
Que a noite em fuga trazia

Volto cansado da luta
No peito, chagas e sonhos
E o teu rostinho risonho
Que conduziu meus passos...
Vim juntando meus pedaços
Na ânsia de te encontrar
No lume desses teus olhos
A vida renascerá
O amor é obra divina
Que soubeste conquistar
Meu anjo, minha menina
Fonte de luz... Iverá!