Mensagem de Amor

Jurema Chaves


A tarde soluça sangrando o horizonte
Tingindo de rubro os flancos do céu
Entre perfumes da brisa, que disfarçada desliza
No verde dos pastiçais
Há uma magia nessa luz entardecida
Que vem ancorar em mim uma saudade antiga
Que há muito já se fez cantiga
Na voz dos tempos que voltam jamais

A chama das lembranças se agigantam
A beber miragens em estradas nuas
Onde a lua branca vai tecendo rendas
Respingando prata em minha janela
E a inquietude vai criando asas
Procurando abrigo aqui e ali
Ouvindo soluços da noite despida
Vazia de vida, vazia de ti!

Na mansidão das noites vazias
Que em rebuços vou buscar abrigo
No altar ausente do teu peito amigo
Na muda oração do teu abraço
Sentindo os beijos invisíveis que derramas
Como estrelas reascendendo chamas
Iluminando os caminhos por onde passo

Busco a tua paz nos meus silêncios
E o pensamento traz o teu semblante
Tornando perto o que está distante
Assombrando o sem fim da madrugada
Não posso aceitar que impunemente
De tudo o que ontem fomos, hoje
Não reste nada!

Preciso acreditar que existe ainda
Uma força de amor que não se finda
Um anjo azul que esteja me esperando
Quando a luz crepuscular adormecer
Guardando um ninho em seu regaço
E eu pousarei em seus abraços
Num setembro amanhecer

Crer na promessa dos teus olhos mansos
Ternos, suaves como a cor da paz
Onde há um quê, de não sei quê, que me impulsiona
- Força divina, que transcende em nós
O
poder da natureza, encantadora magia
Que transforma em poesia cada gota de sereno -
Pranto que a noite soluça
Molhando o rubro da flor
E se vão formando reticências,
Sonorizando a cadência
Da nossa história de amor


Que venceu os desenganos
A força xucra dos anos
Sóis, geadas e frios
A correnteza dos rios
E ressacas de oceanos
Pra ser mensagem divina
A paz de uma oração
E ser, acima de tudo
Num céu azul de veludo
Minha estrela-coração

No dicionário dos anjos
Procuro em vão por palavras
Que eternizem em meus versos
A paz infinda dos teus olhos tristes
- O poema mais lindo do universo
Como estrela caída que a noite em fuga esqueceu
Sobre a flor do malmequer
E, ternura sublimada a desprender-se calada
Por entre os dedos de Deus
Carícias de brisas mansas
Encharcadas de fragrâncias
Embriagando o luar
Por toda a eternidade
Serás amor e saudade
Brotando do meu olhar.