ALMA DE CAMPO E CÉU

 

Jurema Chaves

   Do livro Alma de Campo e Céu

 

Minha alma voa  silente

Pelas campinas do pago

Bebe o céu, colhendo estrelas

Para contê-las num verso...

 

Entrelaço as reticências

Numa cadencia sonora

Mesmo que chova lá fora

Versejo o sol e a lua

Que desfila sempre nua

Na amplidão da poesia,

Se banhando no remanso

Antes que clareia o dia.

 

Ah! Minha alma de campo

Misto  rudeza  e ternura...

 

Abre as asas nas planuras

Nesse querer que me embala

São beijos que o verso fala

Quando as palavras emudecem

Pela força da paixão...

Na amplidão das coxilhas

A brisa beija as flechilhas,

Carícias do coração!

 

Só quem nasceu nesse pampa

Pode entender esse afeto,

No mais singelo dialeto

Que a mãe natura traduz,

Orquestra de som e luz

Na manhã que se espreguiça

Sobre uma colcha macia

Do verde capim molhado

Cheiroso de maçanilha!

 

Meu pago xucro gaudério

Tem tradição e cultura

Que cultivo com respeito.

Carrego altivo no peito

 

Um lenço por distintivo,

Um potro  bueno de patas

Um poncho pátria, e um laço

Enrodilhado nos tentos,

Uma guitarra dengosa

Pra dedilhar uns carinhos

Namorando a estrela Dalva

Luzeiro do meu caminho.

 

Amo o perfume da brisa

Bocejando nas janelas

Quero-quero sentinela

Sempre alerta no seu posto,

Geadas no mês de agosto

Bem junto a um fogo de chão

Charla de gaita e violão

E um mate bem  cevadito

Enquanto chia a cambona,

Uma guitarra  chorona

E o verso nasce solito...

 

O que mais posso querer

Vivendo nessas paisagens

No altar de uma colina.

E quando a tarde se inclina

 

Volto pra junto da china

Que ceva meu chimarrão

Com aquele riso mimoso

Naquela face morena

Com perfume de açucena

Enfrenou meu coração!

 

Por isso te amo Rio Grande

Meu solo sul brasileiro

Meu coração estradeiro

Se  rendeu, se aprisionou.

Tudo que fui e que sou

Versejo cantando ao léu

Nesse poema te entrego

Minha alma de campo e céu!