TRÊS-MARIAS DE SONHAR

Juarez Machado de Farias

 

O espaço para o guri

Vai além dos alambrados...

Não podem ser demarcados

Os sonhos que guarda em si.

Eu sei as coisas que vi,

Eu as tinha entre meus dedos.

Talvez nem fossem brinquedos

Para o guri da cidade.

Mas eram meus de verdade

E no feitio dos meus segredos.

 

Eu era peão de estância...

Brincando com a boleadeira

Que nasceu da corticeira

Para o meu sonho de infância.

Eu trazia a ressonância

Das manhãs de marcação...

Boleadeira de ilusão

Voando nas primaveras,

Coração feito de esferas,

Tão separado do chão!

 

Eu era peão de estância.

Brincando com a minha sorte,

Escutando o vento norte,

Sem compreender-lhe a fragrância!...

Que, devorando a distância

No gosto de camperear,

Brilhavam no meu olhar,

Pelos domingos sem missa,

Três-marias de cortiça

Para o céu do meu sonhar!

 

No velho Piratini

Que me acolheu num agosto,

Eu percebo este meu gosto

Que esqueceu de ser guri...

Eu faço versos pra ti,

Piazito de alma campeira,

Que avistou a pampa inteira

No lombo de uma petiça

E fabricou da cortiça

A ilusão da boleadeira.