INVENTÁRIO DA SAUDADE

Juarez Machado de Farias

 

Dona Tereza faz mate

Numa “xicrinha” sem asa.

Tão amiga e tão saudosa

A alma é conforme a casa.

 

Na varanda estragando,

Dona Tereza cozinha

Lembra os biscoitos de trigo

Num tempo que se esfarinha.

 

Lembra os campos que eram grandes

Antes do pai falecido.

Antes do todo em quinhão

A cada irmão repartido.

 

Antes de cada alambrado

Findasse os campos de trigo...

A união que havia em todos

O pai levava consigo.

 

Figuravam nesses anos,

Nos domínios desta casa,

Vozes, rostos, filhos, netos,

Um fogareiro com brasa...

 

Tempo de marcar o gado...

Tempo de chamar comparsa...

Tempo que se foi no vento,

No lento adeus de uma garça.

 

Hoje, só dona Tereza,

É guardiã deste mangrulho

Que tem medo de sumir,

Ruir e ser pedregulho...

 

Ninguém dos seus temmemória;

Esqueceram que esta casa

Foi ninho, braços abertos,

Aconchego sob a asa...

 

Somente Dona Tereza

Abre a casa de manhã,

Olhando o rebanho curto

E ameia bolsa de lã.