FUNERAL DO VAGALUME

Juarez Machado de Farias

 

Morreu o vaga-lume.

Menos uma estrela no campo.

 

O verão pincel das noites

Com luzernas encantadas.

Os pirilampos e estrelas,

As luas e as aguadas,

Acendem olhos e olhos

- Brilham asas sobre a estrada!

 

O vaga-lume pampiano

Penetrou no rancho morno.

Talvez, pedindo licença...

 

Quem sabe a língua da luz,

O piscar de sua estrela,

Quem sabe a língua das asas,

Quem sabe a voz da boieira?

 

Espantado co'as prisões

Que os homens sem luz constroem,

O vaga-lume arranchou-se

Pra saber somente o gosto

De adormecer entre pedras,

Entre paredes e portas,

Entre janelas fechadas,

Sem lua sem nada.

 

Pensava ele que os homens

Eram tristes criaturas

- Que "embora piscando os olhos,

As vistas lhes eram escuras".

 

"Talvez, por isso tropeçam

e erram tanto de estrada

e fabricam luzes altas

na cidade atrapalhada.

E festejam com fogões

A luz boa da alvorada."

 

"Por isso, que acendem velas

pra pessoinhas de pedra

e a estas pedem milagres

em forma de "luz eterna".

 

"E pr'aqueles que fazem cova

- que nunca vi o germinar -

por um dia acendem velas

que o vento vem apagar.

- Coitados! Esses não voam,

nem vêem o dia raiar..."

 

foi pensando desse modo,

que o vaga-lume curioso

entrou no rancho sem luz

- no seu voar silencioso...

 

hoje - amanhã - vi seu corpo,

a luz inerte e apagada,

feito só desilusão,

faminto da luz dos campos.

 

Desaprendeu a alvorada,

Desaprendeu o candeeiro.

Somente voando, encontra

As razões do seu luzeiro.

 

Somente voando, sabe

Ler a sua vocação:

Semear sementes de lua

Nos olhos da escuridão.

 

"O vaga-lume está morto.

Menos uma estrela no chão."