Do Lado de Cá da Ponte

 Juarez Machado de Farias

 

A estrada que corta a serra
Leva a traz rodas ligeiras
Diferentes do passado
Com carretas cantadeiras.

 

Pergunto: Se este progresso
Que fez motor pras esquilas,
Reduziu as injustiças
Dentro da estância e das vilas?

 

Ontem, mesmo, eu vinha a trote,
Bombeando o sol no horizonte,
E saudei um rancho tosco
- do lado de cá da ponte...

 

Construção de barro e palha,
Beirando a estrada de chão,
Flor terrunha da pobreza
- que alguns querem tradição.

 

Do lado de cá da ponte
- divisora em geografias
e, talvez, da “boa-nova
das igualdade tardias.

 

Então, conheci teu rosto
Curtido a ventos de agosto,
Capinando o “abobral
Na hortinha de taquara
Por onde se pendurara
O viço do porongal.

 

 

Atrás do rancho, o matinho
Com canários e sabiás,
A sincera sinfonia
Que vem acordar-te o dia,
Gaúcho de mão vazia
- braço irmão de saraquás!

Carregando água no arroio
- no exercício da paciência –
a estrada é a tua querência;
o verde a erva, apenas,
teu pampeano minifúndio
- e um sonho de ter ovelhas...

 

Do lado de cá da ponte,
O santa fé do teu rancho;
A cambona presa ao gancho;
Luz fraca de lamparina;
Sapos iguais recitando
Os versos que a noite ensina.

 

És o pago maturrango
- o que não lança e não monta;
lá, na venda, paga a conta
com dinheirito contado
- fruto de safra ou roçado,
e o mais com que se defronta.

 

És o Rio Grande sem voz,
Que o arame fez encerra;
És guerreiro de outra guerra
- que o pobrerio faz coluna;
és a própria erva-caúna;
és o Rio Grande sem terra”