ROMANCE DO PEÃO GUERREIRO

José Machado Leal

 

O rancho era um ninho de paz

perdido no verde do pampa.

Terêncio era um camapeiro, um taura

mais guapo que tronco de angico,

que vento minuano arrendo coxilhas,

nas noites de invernia.

 

Nada na vida lhe botava medo,

sua crença em Deus o fazia grande,

saía lindo de qualquer enredo,

não sabia, como sabe o João Barreiro,

que o melhor de tudo era o calor do rancho.

 

Por isso, quando a quietude dos trevos

agitou-se com gritos de guerra,

guasqueando, no vento,

o pala do moço campeiro

sumiu pela estrada do poente.

 

Por todos os cantos, cantos de guerra,

tormentas de cascos, trompaços de potros

e o batismo de fogo e sangue

que enrijece um valente.

Terêncio um campeiro, um taura!

 

Mas a carga das lanças trovejando nos campos,

borrava de sangue o branco dos lenços.

Ferido e sangrando no orgulho e na alma,

o moço guerreiro dá-lhe rédeas ao flete

e retorna pro pago, pra prenda, pro piá,

com aquele mesmo jeito simples

que o fez patrão de si mesmo...

- Bueno, sem ser covarde,

valente, sem se maleva!

 

Bem diz o ditado...Em rancho de pobre

A vontade dos outros é a vontade da gente!

 

E, antes mesmo que esvaziasse

a primeira chaleira de mate,

esbarra no oitão do rancho

uma patrulha com voz de prisão...

- Desertor, covarde!

 

Terêncio pisa miúdo, mas não se enreda,

é cuera que não cabresteia,

mania antiga de trançar com gosto e jeito

os tentos da honra, para que, depois,

ninguém diga que ele fora covarde.

 

De novo, a adaga manheira

rebrilha na mão de Terêncio.

O terreiro do rancho um campo de guerra,

tinidos de aço, fazendo cadência,

barbarizam a destreza dos machos.

 

Depois, a tormenta que cessa

e os homens que foram valentes,

agora, tintos de sangue, estendidos na terra,

não vivem para os sonhos bonitos

que um dia sonharam.

 

Somente o menino campeiro,

olhos molhados, tristonhos,

vai guardando, na memória,

os conselhos que o pai deixou...

 

- Meu filho, não te esqueças nunca,

que palavra de gaúcho é que nem reza sagrada

e, um fio de bigode, vale mais que juramento!

Isso, eu te deixo como herança

e, para guardá-la, se preciso for,

eu estarei em ti, para pelear de novo!

 

Desde então, na Semana Farroupilha,

netos, bisnetos, tetranetos desses homens

se perfilam para reverenciá-los.

Eles vestem bombachas, montam a cavalo

festejam e cantam...

 

- Como aurora precursora do farol da divindade,

foi o "Vinte de Setembro" o precursor da liberdade!