RAZÕES DE SER

José Machado Leal

 

Agradeço ao Pai do Céu

por me perdoar os defeitos,

as baldas, os preconceitos,

me dando chão e guarida.

Não há parada perdida

quando se aprende a jogar,

sabe-se o lado de montar.

Tudo, são manhas da vida!

 

Levei sogaços, não nego,

perdi carreira já ganha,

fiz tudo que foi façanha,

depois rezei pro meu santo.

Me recolhi pro meu canto,

para entender o mistério

da gana de ser gaudério

e da agonia do pranto.

 

Neste mundo de paixões,

procurei as calmarias

dos cantos, das melodias

do amor e do bem-querer,

mas antes eu quis saber

do respeito e da ternura

e aprendi na água pura

da cacimba do saber.

 

Mas de tudo que aprendi,

hoje sei "que nada sei",

pois Divina é a lei

que institui a humildade

"aos homens de boa vontade",

e pede pra não matar,

não trair e não roubar

-princípios de humanidade !

 

Só então colhi o perdão

e perdoei de coração,

tive tino e compreensão

pra aceitar vasas perdidas,

lembrar noites mal dormidas

por paixões e desamores,

espinhos que viram flores,

na chegada ou nas partidas.

 

Se agradeço ao Criador

pelos tesouros que trago

na alma e no coração,

qual gravetos d'espinilho,

jogo que alumbra o trilho

desta minha vida aragana,

com sereno na badana

e mágoas sobre o lombilho.

 

E na mala de garupa,

coisa leve, pesa pouco,

pra patacão sobra troco.

Ta claro, nunca fui santo

Mas são relíquias, garanto!

O pala que já foi manto

nas alcovas do carinho,

também ele está sozinho

guardando carmim e pranto.

 

Mas inda tenho o meu mundo:

-taipa de pedra e açude,

gado gordo, pêlo-fino,

pra minha encilha, um tostado,

pro campo, tenho um bragado,

de amores perdi a conta,

-sou o dono deste legado.