MENESTREL DOS CARDEAIS

José Oliveira Estivalet

 

Do lombo da Sesmaria

foi p’ro cogote da serra

sempre cantou a sua terra

com divina maestria;

parece até que sabia

quando um canto desatava

que a pampa inteira voava

nas asas da sua poesia...

 

Bendito pássaro negro

menestrel por excelência,

tenor xucro da querência,

nunca demonstrou vaidade,

unia o campo e a cidade

por estas plagas de Cristo,

na armada d’um canto misto

de garra e maviosidade...

 

Seu canto xucro e brejeiro

sonorizava os confins,

bronze de sinos, clarins,

ecoando nas sesmarias,

nas missões e serranias;

verdadeiro Rapsodo,

sempre cantou com denodo

e fez da vida uma poesia.

 

Cantou nas NOITES DE INVERNO,

os SONHOS DE PRIMAVERA,

milongeou tantas quimeras

entre risos e cochichos,

miradas de alguns CAMBICHOS

onde o trinar do teu canto

era reza e acalanto

no santo altar do bolicho...

 

Estará sempre entre nós

Onde houver gaita e violão

E por certo todos dirão,

Com muito amor e carinho:

“Canta alto PASSARINHO

o NEGRO DA GAITA e o GURI,

pois o Rio Grande inteirinho

jamais esquece de ti!...

 

Com um pala cor da geada

PASSARINHO bateu asas,

rumbeou por riba”das casas,

numa última VOLTEADA

e uma saudade danada

inundou os pajonais...

O MENESTREL DOS CARDEIAS

Viajou p’ra eterna morada...

 

“Convida um anjo “a lo léu

pra enduetar o FAZ DE CONTA

e se o TROVADOR te afronta,

quebra na testa o chapéu,

faz do infinito um tendéu,

canta com garra e afinco,

o NEGRO DE TRINTA E CINCO

no palco grande do Céu!...