M I N H A  A L M A  D E  G A L P Ã O

                                                                  Jorge Lima

 

Quando a tarde chega ao fim

Avermelhando o poente

A luz do sol lentamente

Vai apagando sua brasa

Eu chego pedindo vasa

Pra um descanso no galpão

Aonde aqueço minha alma

Ao pé do fogo de chão.

 

Lá fora uma lua branca

Que chegou junto com a noite

E o minuano num açoite

Reponta adagas cortando

Pelas frestas vai entrando

No meu galpão de campanha

Me aquento com o fogo bueno

E algum tragito de canha.

 

Uma garra de pelego

Forra o cepo onde me abanco

E a idéia num solavanco

Volteia tropas no tempo

E tenho o pressentimento

Que a noite ganhou a parada

E já que o sono não chega

Proseio com a madrugada.

 

As labaredas que dançam

Parecem encilhar um pingo

Numa manhã de domingo

De um setembro farroupilha

E a velha estirpe caudilha

Que marcou a sangue este chão

Retorna acendendo a chama

Da alma do meu rincão.

 

O pensamento a galope

Se vai parando rodeio

Saudade mascando o freio

Vai camperiando a amplidão

Na quietude do galpão

O vento passa cantando

Lembranças de um tempo moço

Que a noite vêm repontando.

 

Eu me vejo num repente

Gineteando campo a fora

Quem riscou potros de espora

No oficio de domador

Ou cruzou  um corredor

Repontando uma boiada

Hoje tropeia o sono

Na ronda da madrugada.

 

Na minha idéia surrada

Vai desfilando o meu pago

Até paro pra tomar um trago

Quando a saudade me embuçala

De ansiedade perco a fala

Que é por demais a emoção

Que o tempo vêm repontando

Pro peito deste peão.

 

Assim nesta noite inquieta

Sinto pulsar a querência

E nesta minha existência

Enquanto estiver na terra

Cruzarei campanha e serra

Sempre cantando meu chão

Levando a tropa de ânsias

Da minha alma de galpão