DA MODA ANTIGA

Jorge Lima

 

Dos payadores de antanho

Herdei as tropas de versos

E o patrão deste universo

Senhor da vida e destino

Me deu a idéia e o tino

Pra amanunciar poesias

Sigo então a liturgia

Deste antigo catecismo

Mantendo vivo o xucrismo

Na velha capitania.

 

A tropeada eu continuo

Batendo firme na marca

Contando as rimas na tarca

No nosso sistema antigo

Coisas que trago comigo

Dentro do peito guardado

Pois quem recebe um legado

Vive sempre em prontidão

Sendo soldado e guardião

Deste pago abarbarado.

 

No garrão deste país

Nunca se apaga o braseiro

E o verso de um missioneiro

Que é forte igual a sovéu

Recebe o amparo do céu

Pra continuar galponeiro

Pode voltear o mundo inteiro

Mas não esquece as origens

Suas cores e matizes

Nem seu estilo campeiro.

 

E assim neste dialeto

Vou segurando a culatra

Onde o verso se desata

Pra um pialo seco e certeiro

E o payador que é o ponteiro

Desta tropilha gaviona

Por ser xucra e chimarrona

Só fica quieta e se acalma

Sentindo brotar da alma

Um soluço de cordeona.

 

Eu escolhi este estilo

E sendo assim não me calo

Nas rimas ando a cavalo

Volteando o pago sulino

Esporas entoando um hino

Ao som da inúbia charrua

Riscando de corda e pua

Algum sebruno aporreado

Fazendo marchar troteado

Rondando um quarto de lua.

 

Assim eu levo no peito

O verso xucro e arredio

Sinto no corpo um arrepio

Quando desfraldo a bandeira

E esta ânsia galponeira

Que trago na minha cantiga

É minha arma de briga

Contra os abusos modernos

Sou tronqueira, puro cerno

Falquejado à moda antiga.