UM HOMEM NO RUMO DO SEU TEMPO

Jorge Chaves 

 

Pra quem traz a sina

De um rumo certo perdido de si...

Por encruzilhadas tão enforquilhadas

Como eu já me vi,

Que tire os arreios... refrescando o lombo,

Desvie os atalhos com olhos graúdos,

Repense os caminhos pro homem-guri.

 

Idéias ligeiras...

Que nascem do nada aos redemoinhos,

- Extraviam sonhos de aves por ninhos -

Misturam as tropas pelos corredores...

Caducas - perdidas – cansadas de andar,

Com marcas distintas e “hállenos” sinais.

 

      Quem anda solito vive de quimeras

      E o peito às taperas...

      Guarda temporais.

 

Sementes e amores,

Em terras “ardidas”, gorgulham... sem vida,

Perdem-se da aurora sem frutificar.

- Aprendi a golpes, de tanto encilhar -

Desfio um rosário cruzando os meus tentos,

Alinho meus rumos, confiro os aprumos,

Pra não me enredar!

 

Já sovei estradas e pisei sebrunos

A trotes ladrões.

Já cravei esporas retrucando as horas

...Mangueando ilusões!

Quis vencer o tempo...

Me roubaram mates e desencilhadas.

Secaram vertentes de contentamentos

De tanto sangrar!...

 

      Juntando os tições e os restolhos de mim,

      Hiberno o destino... com as tropas do outono,

      Apêros recolho no inverno teatino

      Que engraxa as ladeiras -malevas- traiçoeiras.

 

...E foi de sobre-lombo

Que estendi meu laço...

Não cruzei o rastro e me “estropiei” num tombo.

Malfadada sina de acasos travessos,

Pisará minha sombra por onde eu andar?

...Pra enrolar minhas loncas

Com sal e com pompas,

Num dia carrasco de agosto a ventar?...

 

Com “suertes e culos”... cancheiro aprendi.

- Já não me convém - repassar mais distâncias

Por léguas canhotas.

Minhas velhas botas

Vão gastando o couro às voltas por aqui.

 

      Se o lático estoura

      - Já conheço as baldas - não golpeio espaldas -

      Desnucando as ânsias minguadas...

      Que restam pro homem-guri.

 

- Quem terá pregado -

Que a doce ribalta do homem está longe?...

Quem falou pro guasca:

- A soga do pago não deixa engordar!

Em qual pergaminho talhou Deus ou Judas,

Carrancuda lei:

Que a felicidade em verdade...

Se esconde por outro lugar?

 

      Quem se desentóra da velha querência,

      Busca-lhe a saudade, pra o véu derradeiro

      - Ou tomba o campeiro – afogado na ausência,

      Voltando a cabeça pras “bandas” do pampa!

 

Quem se enraíza na terra que ama

A cultuar valores em mansos repontes,

Não exila potros, nem “cerra” horizontes

Pra alma gaudéria... liberta e feliz.

 

      Costeando sogueiros, galpões e braseiros...

      Venera os amigos na essência do amargo.

      Somando cultura, anseios, talento...

      Prega ensinamentos pra outros guris!

 

Abraço a ternura...

Nos olhos de um filho, se abrindo ao futuro.

- Há um lume no escuro -

É a minha esperança bombiando o infinito.

Quem tem uma cria

E arreia um petiço... fecunda a experiência!

Rebrota na ciência

De não perecer... num trancão de solito.

 

 

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OBS: SUERTES E CULOS – respectivamente os nomes que recebem, em espanhol, cada um dos lados do osso usado no jogo de mesmo nome ou Tava. Sorte ou azar.ARDIDAS – expressão fronteiriça quase extinta para adjetivar terra árida, não fértil.