BOCHINCHO

João Benito Soares

 

Me lembrei bem faceiro

Numa manhã de domingo

Dei ração para o meu pingo

Que tava perto do rodeio

E logo botei o freio

E fui saindo a trotezito

Falaram num bailezito

No salão do Passo Feio.

 

Louco pra dar uma dançada

Fui procurar o fandango

Na bota, eu batia o mango,

Num compassito de dança

O vício é igual criança

Quando chora pra mamar

Pouco antes de eu chegar

Tava formada a festança.

 

Dei buenas noite à indiada

Mas não fui comprimentado

Já fiquei muito desconfiado

Saí troteando igual chancho

Quando fui entrar no rancho

Um velhote veio me falar:

Guasca vou te ensinar

Aqui não dança carancho.

 

Eu expliquei para o velho

Eu ando aqui de cruzada

Só quero dar uma dançada

Gosto de baile de rancho

Ta certo que sou carancho

Mas isto vou te ensinar

As não me deixar dançar

Eu entro nisto e desmancho.

 

O velho era mal encarado

Já me soltou o facão

Num jeito de valentão

E um olhar de muito bandido

De longe ouvi o tinido

E no facão não deu culo

Foi lá para o quinto pulo

Deixei o velho caído.

 

Depois que venci o velho

Resolvi atacar na porta

Eta que deu gente morta

O que escapou foi cortado

Meu trinta tinha esquentado

O facão nunca esfriou

De defunto que juntou

Emparelhou com o telhado

 

E quando saiu o último

Que terminou o bochincho

Foi quando dei um relincho

Que o guasca saiu torto

Eu dei um coice de potro

Disse: te escapa vivente

Tu conta pra tua gente

Como foi o fim dos outros.

 

Assim terminou o buchincho

Que eu acabei de contar

Pra eles só deu azar

Pois veja só que causou

O fandango terminou

Bem antes de começar

Não me deixaram dançar

Também ninguém mais dançou.