UMA VIDA, UMA HISTÓRIA

João Batista de Oliveira Gomes

 

Disseram que foi bonito

Aquele dia de verão.

Nascia mais um peão

Aqui nos pagos do sul,

O céu era todo azul

O sol por certo brilhava,

Anunciando ao casal

Que o piazito chegava.

 

Tinha saúde o menino

E já era suficiente,

Se vivia diferente

Luxo não existia,

A roça era a garantia,

Plantavam para colher,

Com a mãe saia cedo,

Voltando ao anoitecer.

 

O casamento acabou

Pois eram jovens demais.

Separaram-se seus pais,

Cada um com seu destino,

A mãe ficou, com o menino,

Que pouca coisa entendia

Se sofreu, ficou calado,

Se chorou, ninguém ouvia.

 

Nova família ganhou

Os irmãos foram nascendo

E o menino crescendo,

Com saúde e esperança.

Já não era mais criança,

Foi morar com seu avô,

Homem de grande caráter

Que muito lhe ensinou.

 

Completou dezoito anos

E teve que viajar.

No serviço militar

Pras bandas do Alegrete,

Gineteou sem ser ginete

Mas seu talento mostrou,

Trazendo no peito a medalha

Do nome que ele honrou.

 

Foi gaudério este gaúcho,

Pois ainda era solteiro.

Gastava todo o dinheiro

Com os prazeres da vida.

Não se perdeu na bebida

Nenhum vício lhe pegou,

Carregava com respeito

A educação que ganhou.

 

Trabalhou muito na vida

Com dignidade lutou.

Fome ele não passou,

Ganhava o seu dinheiro.

De servente a pedreiro

Aprendeu a profissão.

 

No sangue muita coragem

Mas com Deus no coração

Casou-se na idade certa

Fez como achou direito,

Mas mantinha no seu peito,

A vontade de falar.

O seu pais quis encontrar

O coração lhe pedia,

Saber sobre o seu passado

E também como vivia.

 

O sangue falou mais alto

E o velho, quis conhecer.

Sem saber o que dizer

Ficou olhando pro pai.

"Sou seu filho, como vai?

Por onde tu tens andado?"

Conheceu novos irmãos,

Por todos hoje é amado.

 

Viu crescer seus cinco filhos,

Educou, fez estudar.

Quis para o mundo mostrar

Com orgulho, suas crias,

Um filho e quatro filhas

E a companheira querida,

Que a mais de trinta anos,

Escolheu pra toda a vida.

 

A este que hoje falo

Com grande admiração,

Me curvo, peço perdão.

Pelo Dom lhe agradeço,

Não sei se eu o mereço.

Lhe comparo a um profeta,

Meu amigo, grande homem,

Meu pai, grande poeta.