PEÃO GAUDÉRIO

João Batista de Oliveira Gomes

 

Gaudério é aquele peão

Que não tem morada certa,

É índio que não se aperta

Quando o lugar é folgado,

Andando pra qualquer lado

Sem nunca medir distância,

Sempre é bem recebido

Ao chegar numa estância.

 

Num oh! de casa, de toda a goela

Pede licença ao patrão,

Pra soltar seu redomão

Pois precisa uma sesteada

E junto com a peonada

Logo vai se entreverando,

E gostando da conversa

Por ali já vai ficando.

 

E quando amanhece o dia

Já fala pro capataz,

Vai contando o que ele faz

E diz que entende da lida,

E sem conversa comprida

Enquanto cevam o chimarrão,

Pode ir ficando gaudério

Pois vamos ter marcação.

 

Num entrevero de corda

O índio vai se soltando,

E logo vai demonstrando

Que tem certeza no braço,

Não erra um tiro de laço

A pé ou mesmo a cavalo,

E na porteira da mangueira

Nunca errou um pealo.

 

Depois de um dia de lida

A noite já vem chegando,

A peonada descansando

No galpão ao redor do fogo.

Contam causos, falam de jogo

E o gaudério meio esquisito,

Vai dando de mão num pinho

E canta versos bonitos.

 

E assim é a vida que leva

Sempre de estância em estância,

Muito amigo de criança

Por sinal muito jeitoso,

Respeita o mais idoso

É gentil e hospitaleiro,

E quando o namoro se ajeita

O índio fica matreiro.

 

E vai ficando na estância

Pois já querem bem o gaudério,

É exemplo de homem sério

E nunca carregou medo,

Mas trazia sempre um segredo

Muitas estórias de amor,

E quantas chinocas sestearam

Em seus pelegos e tirador.

 

Cada traste é um velho amigo

Que há muito lhe acompanha,

E pra lidas de campanha

Um pingo bem ensinado,

De cascos bem aparados

Pois é um exemplo de pingo,

E uma montaria de luxo

Para os passeios de domingo.

 

É mais ou menos assim

Que um gaudério leva a vida,

E quantas chinocas queridas

Ficaram enredadas de amor,

Muito tal e sim senhor

Levando na amizade,

Só se entrega para chinoca

Quando houver necessidade.

 

De repente bate na marca

Sem nenhuma explicação,

Sem se despedir do patrão

Sem se despedir da peonada,

Soltando o pingo na estrada

Que pede rédeas com ganância,

E lá se vai o gaudério

Dar oh! de casa. em outra estância.