MEU JEITO DE SER

João Batista de Oliveira Gomes

 

Nun entreveiro de versos

Com entreveiro de danças,

Ás vezes a idéia balança

Mas o verso vem brotando,

E quando estou declamando

Ou mesmo fazendo pajadas,

Sai um verso e mais outro

E a rima toda encordoada.

 

E o verso é bem mais bonito

Quando é feito num repente,

Vai abrindo a nossa mente

Bem como se abre uma armada,

Pouco antes de ser jogada

Por quem tem força no braço,

Admiro aqueles que fazem

Mas valorizo o que eu faço.

 

E se me perguntam o porquê

Deste meu jeito de ser,

Nem preciso responder

Pois olhem a minha estampa,

Sou um filho deste pampa

Aqui no garrão do país,

E sendo um peão do Rio Grande

Me basta pra ser feliz.

 

Pois nasci lá na campanha

E me criei a lo largo,

Ás vezes metendo um trago

Juntamente co'a peonada,

Na sombra de uma ramada

Quando alguém me convidava,

Pra uma carteada de truco

Era ali que me encontrava.

 

Saía junto com a noite

A estrela D'alva me guiava,

Quando o dia começava

Cumprir ordens de patrão,

Este é o dever de um peão

Que largado se criou,

Se sei, aprendi com meu pai

E ele aprendeu com meu avô.

 

Sempre gostei do que é bom

respeito e sou respeitado,

E se uso o chapéu tapeado

Meio de encontro ao vento,

E a cara bem ao relento

Que nem árvore que desfolha,

Assim eu olho direto

No olho de quem me olha.

 

Sei que sou meio sem jeito

Muito pouco falquejado

Mas gosto de estar ao lado

Daquele que é mais fraco,

Se for preciso me atraco

Pra defender meus direitos,

Depois que eu entro não saio

Sem deixar serviço feito.

 

Gosto da lida campeira

Da marcação campo afora,

Do tilintar das esporas

Que a peonada se prepara,

E quando uma novilha dispara

É que o cuera mostra a raça,

Botando uma armada certa

Num pealo que sai fumaça.

 

E desta vida que levo

Te digo que não me queixo,

É claro que teve trecho

Que foi um pouco complicada,

E por china mal domada

Já enfrentei muito perigo,

Mas sempre que posso atendo

A um pedido de amigo.