CARRETA

João Batista de Oliveira Gomes

 

Quando vejo uma carreta

Quanta saudade me dá,

Começo a recordar

Os velhos tempos passados,

Que tudo era transportado

Naquela velha carreta,

Rodava o dia inteiro

Em todo o tempo de colheita.

 

E hoje carreta velha

Te vejo ali encostada,

Já não resta quase nada

A não ser eixo e rodado,

O quanto foi transportado

Na velha carreta de terno,

Rodava, sempre rodava

Fosse verão ou inverno.

 

E ao te ver carreta velha

Também lembro um carreteiro,

Ele e seu companheiro

Muito lutaram contigo,

Pois foi carreteiro o Rodrigo

Quase que a vida inteira,

Com seu companheiro de luta

O tal José de Oliveira.

 

E depois o velho Rodrigo

Sentindo o peso da idade,

Mas com muita tranqüilidade

Contava as proezas que fez,

Lá no Mato Português

Era onde residia,

E no segundo cantar do galo

Com sua carreta saía.

 

Com destino a Tapejara

Lá ele foi seguindo,

E na tapera do Amantino

Bem na beira da estrada,

Era o ponto de pousada

E para rebater a poeira,

Tomava um trago de pura

Enquanto esquentava a chaleira.

 

E assim o velho Rodrigo

Viajava dias e dias,

No coice, duas éguas tordilhas

Tratadas mesmo a capricho,

Na ponta tinha três bichos

Que nunca negou pegada,

Um burro cor de pinhão

E duas mulas tostadas.

 

Hoje só resta a saudade

Da carreta do Rodrigo,

Quantas cargas de trigo

Ele levou para o povoado,

Conforme tinha tratado

A carga ele entregava,

E lá fazia suas compras

E a trotezito voltava.

 

E depois veio o progresso

E uma tal de evolução,

Transportes de caminhão

Foram asfaltando as estradas,

As carretas foram encostadas

E junto foram os aperos,

Ah! se voltasse novamente

O tempo dos carreteiros.