TOSO DO BURRO VELHO

 João Alves Garcia

 

Quando bate a urucubaca

No seco o índio se atola

Precisei ir no comércio

Pro comprar uma viola

Os malandros me entreteram

Na venda de uma pistola

E deixaram meu burro velho

Só com o sabugo da cola.

 

O autor daquele truque

Se eu descubro nem se fala

Na certeza era um pilantra

Que não valia uma bala

No seu lombo eu só queria

Deixar a marca do tala

Porque o dito sucedido

Me secou o pão da mala.

 

O ladrão da gaita velha

Do José Mendes saudoso

Certamente foi o mesmo

Que no burro fez o toso,

Ao ouvir o meu lamento

O sujeito está no gozo

Mas um dia ele dorme

E eu pego o índio no pouso.

 

O toso do burro velho

Pra mim que sou peão

Foi como golpe de adaga

A me apartar o coração

Perdi tudo que era gosto

E com sobra de razão

Porque jamais voltarei 

A ginetear meu burrão.

 

Eu soltei meu burro velho

Pra nunca mais por arreio

Pitoco daquele jeito

Ficou um negócio feio

Não quero mais camperear

Meu laço também enleio

Com que prazer vou chegar

Sem meu burro num rodeio.

 

O meu burro está vivendo

Mas sua cola acabou-se

Prefiro a sua morte

Do jeito que ela fose

O dia que eu descobrir

Quem esta mágoa me trouxe

Vou mostrar pra este bandido

Como uma vingança é doce.