SILÊNCIO E LUZ

Jayme Caetano Braun

 

Silêncio de vento frio,

murmúrios de pasto e lua,

a estrela grande chirua

tem fogonear de pavio;

há soluços de arrepio

quando a noite fica branca

e a luz se torna barranca

pra ouvir o choro do rio!

 

O homem nasce de um grito

e a morte é tão silenciosa

na passagem misteriosa

que apaga o nosso infinito;

por isso é que - despacito,

quando a luz se vai embora,

a alma se auto-devora,

sem saber que estava escrito!

 

O silêncio é a luz maus pura

no mundo onde me deparo

e a luz é o silêncio claro

na estrada de quem procura;

a escuridão é a loucura

na cancha larga da mente,

apagando a luz latente

dos olhos da criatura!

 

No silêncio eternidade

está o mistério da vida,

com chegada e com partida,

dois extremos da saudade;

no tempo - sem mocidade,

a luz é a sombra vencida

e a sombra é a luz escondida

que um dia foi claridade!

 

Talvez daí - porque o ruído

que a gente pensa que ouviu

naquele choro do rio,

seja o silêncio invertido

e aquele arrepio sentido

em nosso subconsciente,

- a luz da razão da gente,

buscando o elo perdido!

 

Mesmo arrastando uma cruz,

na estrada do tempo imenso,

entre os ruídos de silêncio

que a natureza produz,

a mim - o que me seduz,

é o bordonear da milonga

e - ao invés da vida longa,

restos de silêncio e luz!