Meu Pedido


Jayme Caetano Braun

Se me fosse concedido
Pelo Ser Onipotente
Que eu escolhesse um presente,
Algo de grande e querido,
O meu supremo pedido
Seria voltar distância
À primeira ignorância,
Mais doce do que uma flor
Eu pediria ao Senhor
Que me devolvesse a infância!

Eu não queria dinheiro,
Nem fortuna, nem saúde,
Mas aquela alminha rude
De piazito missioneiro
Ao pé do fogão campeiro
Do velho pago avoengo,
Ouvindo o vento andarengo,
Senhor do tempo e caminho,
Contando, devagarzinho,
Histórias do diabo rengo...

Sentindo a fumaça crua
Que faz chorar de brinquedo,
Meio arrepiado de medo
Dos duendes da pampa nua,
E o beijo da mãe charrua
Mais doce que um caramelo,
Naquele doce desvelo
Que de ternura se esvai
E a mão amiga do pai
Me esparramando o cabelo!