GALPÃO DE ESTÂNCIA

Jayme Caetano Braun

 

Sala grande, chão batido

Onde passei minha infância

Querido galpão de estância

Que foste um dia meu lar,

Hoje aqui venho rezar

Saudoso dum teu afago

Catedral chucra do pago

De joelhos, no teu altar!

 

Na severa austeridade

Do teu paterno aconchego

Tive um berço de pelego

Que deixei ao Deus dará,

Mas nas voltas que se dá

No canhadão da existência

Sempre chorei tua ausência

Meu velho abrigo de piá.

 

Gauderiei, galpão querido

Contigo no pensamento,

Mesmo dormindo ao relento

Foi sempre pensando em ti,

Porque desde que eu nasci

Tu foste meu salão nobre

Meu templo de guasca pobre

Que a venerar aprendi!

 

Venero com toda ânsia

Numa mística pagã

Teus fiapos de picumã

Dependurados nas varas,

Que parecem, quando aclara,

O fogão nas madrugadas

Bandeiras esfarrapadas

Entre as ripas de taquara!

 

Adoro a figura antiga

Da velha chaleira preta

Que num guincho de carreta

Perto a fervura anuncia,

Parecendo quando chia

No meio da labareda,

Que vai cantar de vereda

As glórias da nossa cria!

 

Sinto o cheiro, rude incenso,

Do alecrim e da canela

Dando gosto na costela

E o matambre da novilha

E lá longe da coxilha

Sobre um trono de verdura

Vejo estampada a figura

Do campeador farroupilha!

 

Te adoro a simplicidade

De pau a pique e tijolo

Meu velho abrigo crioulo

Porque és o templo da raça

Temperado na fumaça

Onde ao redor do fogão

Comungo meu chimarrão

Entoando uma ação de graças!

 

Esse mesmo mate-amargo

Encilhado em boa lua

No toldo de algum charrua

Perdido no descampado

Hoje vinho consagrado

Junto ao altar da querência

Que se bebe em reverência

Das grandezas do passado!

 

Dizem até que São Pedro

Altas horas desce oculto

Celebrando estranho culto

No teu altar meu galpão,

É o padroeiro do rincão

Que vem pela noite grande

Encomendar o RIO GRANDE

Na missa da tradição!!!