FRONTEIRO

Jayme Caetano Braun

 

...O grito de exaltação

de passado e de presente,

na invocação permanente

do homem que se preocupa

e carrega na garupa

este país continente!

 

Sem figura de retórica,

o andejo fronteiriço,

foi isso e mais além disso

na definição histórica,

não a figura folclórica,

mas a estrutura, o esteio,

que, após dominar o meio,

abarbarado e hostil,

se fez querência e Brasil,

na guerra e no pastoreio!

 

E ocorreu nos quatro lados,

com Paraguay, Argentina,

eo Província Cisplatina,

os quatro irmãos falquejados

ao longo dos descampados,

nas lutas demarcatórias,

gestas emancipatórias,

da mesma lonca comum,

conservando cada um,

o enfoque de quatro histórias.

 

Daí- o entrelaçamento,

permanente das culturas;

águas das vertentes puras,

sob o mesmo firmamento,

o mesmo sopro do vento,

penteando os mesmos umbus,

os mesmos impulsos crus,

comando as mesmas distâncias

e a gama das mesmas ânsias

que moldaram os chirus.

 

Como é linda essa fronteira

que não divide países,

mas acentua matizes,

da mesma origem campeira,

frutos da saga guerreira

que se agiganta na paz,

um rio que leva e que traz,

um céu e um sol que alumia,

juntando os que se extraviam

sempre ao tranquito “no más”.

 

Roncos da mesma cordeona,

e rasguidos de guitarras,

que são cantos de cigarras,

das mesmas notas gavionas,

são paisanos e sai donas,

de quatro pátrias amigas,

guardando linhas antigas

que definem quatro histórias,

mas com linhas divisórias

que n´~ao atacam cantigas...

 

Crises- penares e ânsias,

alegrias, sofrimentos,

vão, no vai e vem dos ventos,

espalhando ressonâncias,

nas lavouras, nas estâncias,

nas vilas e nas cidades,

porque o homem-liverdade

que vem dos tempos- do fundo,

em qualquer parte do mundo

tem a mesma identidade.

 

Ele é uma parte do meio

e nele grava seu poema,

nessa altivez que é o emblema

dos homens do pastoreio!

Dormiram sobre os arreios,

nos vendavais da conquista,

hoje- perdendo de vista,

tempos que não vão voltar,

procuram se adaptar

ao todo universalista!


 

Tenteio o mate- que irmana,

quatro pátrias desenhadas,


na geografia, abraçadas,

sobre a terra americana,

a nobreza castelhana

e o caráter lusitano,

o índio xucro, pampeano,

bugres, negros, bandeirantes

e mais tarde os imigrantes,

chegados de além oceano.

 

Mesma origem, mesma sina,

mesma idéia espiritual,

mesma força universal,

essa a América Latina

que um sistema discrimina,

esmaga- mata e explora.

Parece chegada a hora,

desse mundo espezinhado,

declarar-se emancipado


mandando o intruso embora!