DO TEMPO

Jayme Caetano Braun

 

...vou tentiando o chimarrão

da madrugada clareando,

enquanto escuto, estralando,

o Velho brasedo vivo,

nesse ritual primitivo,

sempre esperando, esperando...

 

É a sina do tapejara,

nós somos herdeiros dela,

bombear a barra amarela

do dia, quando se aclara,

sentir que a mente dispara

nos rumos que o tempo traça;

eu me tapo de fumaça

e olho o tempo veterano,

entra ano e passa ano,

ele fica... a gente passa...

 

Que viu o tempo passar,

muita gente que pensa,

mas é grande a diferença,

ele não sai do lugar,

a gente é que vive a andar,

como quem cumpre um ritual,

é o destino do mortal,

é o caminho dos mortais,

andar e andar, nada mais,

contra o tempo sempre igual!

 

Tempo é alguém que permanece

misterioso, impenetrável,

num outro plano imutável

que o instinto desconhece,

por isso a gente envelhece,

sem ver como envelheceu,

quandosente, aconteceu,

e, depois de acontecido,

fala de um tempo perdido

que, a rigor, nunca foi seu.

 

Pensamento complicado,

do índio que chimarreia,

bombiando na “volta e meia”

do presente no passado,

depois, sigo, ensimesmado,

mateando sempre, na espera,

o fim da estrada é a tapera,

o não se sabe do eterno,

mas, a esperança do inverno,

é a volta da primavera...

 

Os sonhos são estações,

em nossa mente de humanos,

que, muitas vezes, profanos,

buscamos compensações,

na realidade, as razões,

onde encontramos saída,

nessa carreira perdida

que contra o tempo corremos,

que, a rigor, não sabemos,

o que haverá, além da vida.

 

Dentro das filosofias

dos confúcios galponeiros,

domadores, carreteiros

que escutei nas noites frias,

acho que a fieira dos dias

não vale a pena contar,

e, chego mesmo a pensar,

olhando o brasedo perto,

que a vida é um crédito aberto

que é preciso utilizar.

 

Guardar dias pro futuro

é sempre a grande tolice,

o juro é sempre a velhice

e, de que adianta esse juro

se ao índio mais queixo duro,

o tempo amansa no assídio?

gastar é o melhor remédio,

no repecho e na decida,

porque, na conta da vida,

não adianta saldo médio.