NOITE GRANDE

Gujo Teixeira

Noite grande...!
Dos retratos antigos
pendurados na parede.

 

Descem os avós sorridentes
mesmo desbotados pelo tempo
e passeiam pela memória da casa.

 

Passos macios qual novelos de lã,
desses que as avós campeiras
com seus teares e mãos mágicas
faziam bicharás para as invernias,
lã por certo de algum cordeiro de Deus!

 

Os avós também campeiros,
antigos tal a saudade,
passeiam pela memória
de não esquecer nenhum fato.

 

São fantasmas pela memória da casa,
pelo corredor de janelas grandes,
pelo quarto de noites grandes,
pela sala de portas grandes para o pátio.

 

Na sala...
uma cadeira de balanço para embalar a saudade
e móveis tão antigos, iguais a ela.

 

São fantasmas pela memória do galpão
e sopram as brasas do fogo de cão
para que este não morra de cinzas
e reviram a memória do galpão
de quando encilhavam cavalos gateados,
mouros e baios, e quebravam bem o cacho,
um lombilho, aperos de prata,
esporas luzindo o clarão da aurora.

 

Atavam ao pescoço um lenço
e terçavam ferro em alguma revolução
pela honra deste lenço bandeira,
de paz e guerra.

 

As avós...
na paciência de criar filhos, meus pais,
cuidavam sob o olhar atento,
e o carinho das mãos.

 

Mãos mágicas, que sabiam como ninguém
fazer pães e tachadas de doce
e cerzir panos e fazer bordados.

 

Mãos de aceno quando um filho partia,
pássaro que cria asas e voa sozinho.

 

Noite grande...!
E os avós que saíram dos retratos
passeiam pela memória da casa,
do galpão, de tudo, e de todos!

 

Noite grande...!
E eles voltam para as suas molduras,
janelas de onde vêem e são vistos,
de onde lembram e são lembrados
de onde amam e com toda a certeza,
também são amados.