escravo

Guilherme Collares

 

Sou escravo da rima...

... ela me ordena!

De há muito me condenou

- ainda me condena -

a um ostracismo lírico-terrunho...

... que tolhe meu espírito sedento

de voar - livre - pelo branco do poema...

 

... de não aceitar o moderno-universal...

 

Sou escravo da rima...

... minha invertida cruz de sal...

... um breve santo

que protege somente ao escolhido:

Não adianta procurar... ela procura!

Não basta querer... ela é quem quer!

Não adianta pedir... pois ela nega!

 

Sou escravo da rima...

... ela me apega!...

... ela me ofusca!... ela me manda!

Sou apenas um veículo,

a poesia me comanda!

Sou singelo tradutor... simples tropeiro...

... mero condutor...

... de idéias e palavras... peregrino...

 

Sou escravo da rima...

... é meu destino!

Minha sina de ser e de buscar...

... de andar pelos rumos da lira...

... teatino!...

... pelas sendas do sentir e perceber.

 

Sou escravo da rima...

... amante da forma!...

... cultor da métrica!...

... amigo do saber!

Parnasiano por obrigação!

Sinto o mesmo que Bilac

- e isso me transtorna -

também invejo o ourives quando escrevo!

 

Sou escravo da rima...

... é meu apego!...

... e é necessidade de exprimir...

em meras frases,

os sonhos que não consegui sonhar;

as emoções que não pude sentir;

a poesia que nunca pude conceber...

... e os sentimentos que não soube dominar...

 

Sou escravo da rima...

... é minha sina!...

... minha companhia...

... minha eterna necessidade.

Pois escrever - para mim -

independe da vontade:

é como um grande fardo que carrego,

verdadeira praga!...

... uma ferida aberta... uma maldita chaga

que obriga a dirimir sonhos e penas.

 

Esse é meu rumo... ingrata sorte!...

... malogrado engodo do destino... apenas...

 

Nasci escravo e vou morrer cativo,

da insensata rima que me ofusca...

... doce amante que me abraça...

... mediador que me condena

a um ostracismo lírico-terrunho...

... que tolhe meu espírito sedento

de voar...

               - livre -

... pelo branco inatingível do poema!