PRENDA GAÚCHA

Gonçalves Chaves Calixto

 

Eu sou prenda gaúcha

Reparem no meu estilo

Este meu jeito tranqüilo

Expressa a minha imponência

Tenho a mesma procedência

Do centauro farroupilha

Eu vim pela mesma trilha

Que o homem gaúcho veio

Com mesmo amor...mesmo anseio

Pela terra que sou filha.

 

Eu sou a mulher gaúcha

Da mesma raça baguala

Que o gaúcho quando fala

Me chama apenas de prenda

Esquece que fui legenda

Que a história pouca contou

E o homem nunca notou

Cruzando no tempo afora

Por isso lhe falo agora

Da prenda guapa que sou.

 

Eu sou aquela que um dia

Por força das circunstãncias

Fiquei comandando estâncias

O campo e a gadaria

Enquanto o taura partia

Cruzando fronteira e serra

Indo ao encontro da guerra

Porque o dever o chamava

Era eu que aqui ficava

Tomando conta da terra.

 

Eu fui peona e fui patroa

Lidando com bois de canga

Fui maragata e chimanga

Sem escola, sem estudo

Gaúcha acima de tudo

Tendo o pampa por tesouro

Plantava e castrava touro

Na hora que precisava

E muitas vezes sangrava

Carneava e tirava o couro.

 

Fui tropeira e aprendi

Toda lida campesina

Pois tudo o que a vida ensina

Pra sempre nos acompanha

Fui parteira de campanha

Quando a vida me exigiu

Nas longas noites de frio

A tristeza sempre vinha

Porque aqui fiquei sozinha

Quando o gaúcho partiu.

 

Enquanto lá na batalha

O homem macho peleava

Era eu quem trabalhava

Enfrentando os empecilhos

Domando e criando filhos

Sentindo do homem a ausência

Mas lutei com persistência

Porque se o taura voltasse

Queria que ele encontrasse

Do mesmo jeito a querência.

 

Fui eu que através dos tempos

Pelo homem fui lembrada...

Como mulher...e...mais nada

Do Pampa Sul Brasileira

Esqueceu que fui guerreira

Xucra, altiva, sem retovo

Pelo meu pago e meu povo

Lhes digo com altivez

Se precisasse outra vez

Faria tudo de novo.

 

Fui eu que fiquei à espera!...

E quando o taura voltava,

Era eu que lhe curava

As feridas das batalhas...

Fui eu que fiz as mortalhas

Na hora da despedida,

Fui eu que por toda a vida

Vim andando do seu lado

Vendo ser condecorado

E eu sempre sendo esquecida.

 

Eu não estou reclamando

De nada que eu tenha feito

Apenas quero respeito

Pela prenda e pela china

Esta altivez feminina

É a mesma onde quer que eu ande

Mesmo que o gaúcho mande

Com machismo e arrogância

Que não esqueça a importância

Da mulher...do meu Rio Grande.

Sem ser mais do que ninguém


 

Encaro o macho de frente


Digo a ti taura valente

De estampa altiva e robusta

Não vais pensar que me assustas

Nem me julgues “pequerrucha”

Nem você adaga e garrucha

Te faz tão grande parceiro...

-Saibas que tu coube inteiro,

no ventre de uma gaúcha!...