LEMBRANÇA DE CARRETEIRO

Cabeleira

 

Quando me vem na lembrança,

Até meu coração dança

Quando pego recordar

Meu tempo de carreteiro

Que eu passava o dia inteiro

Pela estrada a carretear.

 

Inda nem clareava o dia

Minha boiada eu trazia

E prendia embaixo da canga

Saia cortando estrada

Atravessando a invernada

Passando as águas de sanga.

 

Lá o povoado eu chegava

Minha boiada eu soltava

E ouvia um quera falar

Como vai tu carreteiro

Larga teus bois no potreiro

Te chega pra nós prozear.

 

Pois ali mesmo eu prozeava

Até que me descansava

E pra algum fandango saia

Chegava arrastando a espora

Dando grito lá por fora

E já formava a folia.

 

Na mesma estrada eu voltava

Sem graxa até ela gritava

Parece que ela dizia

Vamos embora parceiro

farreaste o dia inteiro

Chega de tanta alegria.

 

Mas eu quisera que um dia

Voltasse aquela alegria

Que tanto me faz sofrer

Porém sei que não volta

Só a lembrança me revolta

Não me deixando esquecer.

 

Hoje estou velho...atirado.

Com reomatismo...entrevado...

Sem poder nem caminhar

Minha carreta apodreceu

Sem rangido emudeceu

Nunca mais ouvi gritar.

 

Fala minha carreta

Canta tua pirueta

Confirma minha verdade

Pois tu és a condução

Que carrega a tradição

E carregou-me a mocidade.