ESTRADA

Glaucus Saraiva

 

Pedaço de alma estirado

entre o adeus e a saudade...

Gaudéria comunidade,

parador dos que não param,

dos que se desguaritaram

fugindo do próprio eu;

nesse ritual ateu

cruzaram várzeas e montes

no mórbido auto-reponte

de almas que, num resumo,

é o baile eterno dos rumos

na orquestração do horizonte.

 

Velha querência de penas

redomadas pela dor,

és um atalho de amor

na vastidão da saudade.

Cancha de toda orfandade

aonde o sonho procura

- sob esta insana loucura

de sempre andejar a esmo,

pousada para si mesmo

nos pelegos da ternura.

 

Na procissão dos caminhos,

quando a paisagem desfila,

ficam marcas nas pupilas

dos cansaços e lonjuras;

Na distensão das planuras

em que repecham lamentos

estradas são como tentos

tirados da imensidade

onde se apeia a saudade

que vem na anca dos ventos.

 

Se há respingos de lua

pelas fraldas do arvoredo,

falam mágicos segredos

na sanga, estrada que canta,

afinando outras gargantas

para o nativo sarau.

É quando o triste urutau,

- monge do eterno sofrer,

preludia o anoitecer

com preces de nostalgias,

chairando melancolias

nas lendas do entardecer.

 

Quantas estradas domei

com os meus olhos teatinos,

couro cru com que o destino

embuçalou minha vida.

Tanta esperança perdida

por corredores afora...

Quanta lembrança me aflora

- do fastígio ou de misérias,

nas reticências gaudérias

do retinir das esporas.

 

Quisera arrancar a estrada

da minha vida gaudéria,

mas a estrada é como artéria

para o meu sangue andarilho!

O meu céu já está tordilho!

e a vida pela metade,

mas por ancestral vontade

eu sigo domando estrada,

que é a minha alma estirada

entre o adeus e a saudade...