VIAGEM DO PENSAMENTO

Getúlio Abreu Mossellin

 

Eu queria estar agora

Tomando um banho de sanga

Saboreando uma pitanga

E ouvindo um sabiá cantor

Soando canto de amor

Da sua garganta de ouro

E apreciar este tesouro

Que é obra do Criador.

 

Eu queria estar agora

Na estância em que fui criado

Numa marcação de gado

Alcançando a marca quente

E golpeando uma aguardente

Pra espantar o frio do minuano

E chulampeando um tutano

Pra reforçar o vivente.

 

Eu queria estar agora

Tomando o meu chimarrão

Sob a quincha do galpão

De pau-a-pique barreado

Ouvindo o berro do gado

Este som que dá saudade

Do tempo da mocidade

E do pampa, onde fui criado.

 

Eu queria estar agora

Lá no velho Quaraí

Que morei quando guri

Bem na costa do Pai Passo

Num pago flor de buenacho

De gente boa em quantia

Eu era feliz, e não sabia,

Neste lugar bagualasso.

 

Eu queria estar agora

Numa tosquia de ovelha

No velho galpão de telha

De pura pedra empilhada

Com a frente escancarada

Bem no estilo pampeano

Para abrigar do minuano

Os cavalos e a peonada.

 

Eu queria estar agora

Unindo os bois numa canga

Pra puxar água da sanga

Pra encher pileta e banheira

Serviço de peão caseiro

Que eu fazia quando piá

Que saudade que me dá

Do tempo que fui campeiro.

 

Eu queria tudo isso

Mas isso é coisa passada

Mas é a saudade malvada

Que nos machuca aos pouquinho

Mas me lembro com carinho

Pois tudo isso eu fiz

Mas sou um homem feliz

Tenho saúde e meu ninho.