SOU PAMPA E QUERÊNCIA

Getúlio Abreu Mossellin

 

Sou gaúcho e brasileiro,

Sou filho, sou pai e esposo.

Sou manso, xucro e manhoso.

Sou caborteiro e arisco

Sou que nem raio corisco,

Sou leal, amigo e honesto.

Pra muita gente, não presto,

Mas com estes, não me arrisco.

 

Sou filho do campo aberto,

Sou neto dos banhadais.

Sou sobrinho dos trigais,

Sou vizinho do luar.

Sou lua que vem olhar.

Sou bagual que pasta a noite,

Sou vento que faz açoite

Sobre as árvores do pomar.

 

Sou a invernada do fundo.

Sou potreiro dos bois mansos,

Sou açude que banha os gansos.

Sou brete de marcação,

Sou mangueira e galpão.

Sou o rebanho de ovelha

Sou a velha casa de telha

Fincada num chapadão.

 

Sou os arreios da lida

Sou basto, xergão e carona.

Sou velha lata cambona,

Sou mango, buçal e cincha.

Sou cavalo que relincha

Sou o potro caborteiro.

Sou charque de carreteiro

Penduradito na quincha.

 

Sou a velha cerca de pedra,

Sou a cerca de listão.

Sou porteira e portão.

Sou cocho, sou sal, sou gado.

Sou o rancho abandonado,

Sou o cerro, sou perau.

Sou coruja e pica-pau

Perdidos no descampado.

 

Sou quero-quero charrua.

Sou avestruz, sou tajã.

Sou caibro, sou picumã,

Sou graxaim, sou cordeiro,

Sou carancho e terneiro,

Sou o vento e o clima

Sou o verso e a rima

Do poema xucro e campeiro.

 

Sou o que disse no verso,

Sou tudo que escrevi.

Sou tudo que disse aqui.

Sou um gaúcho campeiro,

Sou as estrelas do cruzeiro,

Sou terra, sou céu azul,

Sou o Rio Grande do Sul,

O meu garrão brasileiro.