GALPÃO DO PAMPA

Getúlio Abreu Mossellin

 

Meu velho galpão do pampa,

Parede beirando o chão.

Bem no fundo um fogão,

Pra fazer bóia campeira,

Cardápio lá da fronteira

Feijão, arroz e guisado

Canjica e ensopado,

Coisa especial de primeira.

 

É meu recanto do mate,

Na madrugada ou à noite,

Onde o vento faz açoite,

Pelas frestas do galpão.

Tomando meu chimarrão,

Com minha prenda lindaça,

Vejo subir a fumaça

Que desprende do tição.

 

É neste cenário xucro,

Que recordo a querência,

E vou sorvendo com paciência

A seiva verde do pago,

Pois trago como legado

Quando aquento uma cambona,

A velha lata chorona

Que tem o gargalo largo.

 

E dentro do meu galpão

Que guardo com muito amor,

O velho tirador,

Faca, chaira e facão,

Panela preta e lampião,

Meu chapéu, bota e espora,

Coisas que usava lá fora,

Nos tempos em que fui peão.

 

E os espetos pendurados,

Esperando uma costela.

Ao lado, uma gamela

Pra salgar a carne pro assado.

E um candeeiro apagado,

Pra um caso de precisão,

Da pra acender com tição

Velha luz do meu passado.

 

É piso de laje pura

Tirada da natureza,

Pra galpão é uma beleza,

Bem no estilo campeiro,

Simples e hospitaleiro,

Pronto pra roda de mate

Ou um puchero de alcatre,

Pra comer com os companheiros.

 

E oi velho rádio que toca

Bugio, xote e vaneira

Valsa, mazurca e rancheira

Que ouço com alegria,

Sempre em minha companhia

Com muita simplicidade

É a radio liberdade

Que escuto todos os dias.

 

Pois aqui peonada amiga,

Despede-se este xiru,

Trançando com couro cru

Os versos desta poesia,

Mês de inverno, tarde fria

E o tempo que vai passando,

E a gente vai lembrando,

O que já viveu um dia.