VISAGENS DE QUEM ANDEJA

Fabrício Marques/Eduardo Muñoz

                                                                                      

Num tranco mui debochado,

Tal se com nojo do chão,

O meu “tronqueiraRuano

Assoma na escuridão ...

Com um quarteto de galhos

Moldando o cacho quebrado,

O mesmo apero de prata

E o velho entono estampado!

 

O serenal que caiu

Já se levanta em fragrância,

Com a madrugada findando

Porém sobrando distâncias...

Mal comparando, parece,

Que a aurora veio com sede,

Sorvendo o mate dos campos:

- Orvalho por sobre o verde!

 

Com o luzeiro da manhã

Apagando os pirilampos

Vai renascendo a paisagem

Emoldurando o campo,

Então a noite se achica

Na ilusão de esconder,

Os segredos e mistérios

Que o dia vem desfazer!

 

Um buçalzito judiado

Apresilhado ao arreio,

Vem aguardando serviço

E um Mouro pro cabresteio

Enquanto bebo horizontes:

- A cada passo, um gole,

No sobe e desce da estrada

Que lembra o jogo de um fole!

 

... Bem na curva da tapera

Um vento chega e assombra ...

Venho cruzando solito,

Escoltado pela sombra:

- Que às vezes se faz fiador,

Deixando o sol na culatra!

- Por outras, inverte a cena,

E tranqueia atrás das patas!

 

Junto a varando dum rancho

Um desses campeiros antigos,

Mateando, embala a cadeira,

Tal se no lombo de um pingo...

Será que busca no gesto

O que encontrava no ofício?

Pois quem já nasce a cavalo

Só morto deixa do vício!

 

Assim afloram imagens

Que os meus olhos pastejam,

Um acalanto pampeano

Pra alma dos que andejam,

Buscando além das visagens

Por certo, mais que alento...

- Justamente o que não vejo

Que me prende o pensamento!

 

...É quando o silêncio parte

No rastro de um rumor,

Que se aproxima a galope

Despertando o corredor:

- É o êra boi do progresso

No ronco de um boiadeiro,

Afirmando ao mundo novo

A extinção do tropeiro!

 

Um simples gesto de aceno,

Um buenas e já cruzou,

O novo “peão de tropa”

Que o modernismo criou ...

E o Baio, também roncando,

Se nega, tal se visasse,

O vulto de algum tropeiro

Que o tempo quis que findasse!

 

Refaço o tranco e percebo

Que na ausência do gado,

A estrada morre aos poucos

Deixando os rumos calados,

Pois cada casco que bate

Sonorizando a jornada,

Marca o compasso pulsante,

Do “coração da estrada”!