PERMISSO

Estanislau Robalo

 

Permisso, caro patrício

Pra soltar meu canto largo

Neste começo de noite,

Quando Rio Grande se ermana

Pra confrarias dos versos.

 

Neste galpão campechano

De pau-a-pique barreado

O pinho faz um costado

eu, patacoero, declamo

Quero contar as façanhas,

Do índio xucro do pago

Que se criou meio vago

Cruzando nossas campanhas.

 

Esta gaúcho que falo

É o mesmo venta-rasgada

Que ao toque das clarinadas

No alvorecer do Rio Grande

Montado, e bem a cavalo,

De espada, lança e garrucha

Foi demarcando a fronteira

Da velha pátria gaúcha.

 

Foi ele sim, o mangrulho

O sentinela avançado

Rude, guasca, abagualado

Que não conheceu maneia

E nunca dobrou penacho,

Porque não nasceu de susto

E nem foi criado guacho.

 

Sempre esteve na vanguarda

Como ponteiro de tropa

Chapéu batido na copa

Pachola e desafiador

Olhos de tigre em peleias,

Que calça o pé e não recua

Pois traz o sangue charrua

Galopeando pelas veias.

 

Mantém o mesmo estoicismo

Que recebeu por regalo

E assim há de conservá-lo

No mesmo entono de guapo,

Amalgamando raízes

Pra manter vivos os matizes

Do descendente farrapo.

É dele que história fala

Há mais de trezentos anos

Os seus feitos sobre-humanos

Escritos a ponta de lança

Em tantas revoluções,

Peleou sem pedir clemência

Pra defender a querência

Da gana de outras nações.