DEPOIS DOS GALPÕES

Eron Vaz Mattos

 


Sempre aparece de manso

num cotovelo de esquina

de uma avenida, no centro;

Além da estampa e o andar,

um rodeio de memórias

lhe traz pilchado por dentro.

 

Expressão entardecida

nos seus invernos finais;

Qual um velho cinamomo

arrancado do seu chão

onde deixou os sinais

das, bem cravadas, raízes

e a seiva melhor do lenho

na paisagem do galpão.

 

É como as sangas de campo,

a percorrer o caminho,

na obediência do rumo,

entre as barrancas do leito;

Que andou por várzeas e pedras,

por cachoeiras e remansos,

juntando areias nas praias

para os alentos do peito.

 

Sim,

igual as sangas de campo

que depois de tantas curvas

com minuanos e tormentas,

estios,  mormaços e chuvas;

Chegando à foz do destino

com ressacas e águas turvas!

 

Dizem alguns do seu tempo

que o conheceram melhor;

Que desde o fole das gaitas

aos lombos ágeis dos potros

ou no pontear das guitarras

era o exemplo maior.

 

Ao vê-lo, me faz lembrar,

desmamado dos galpões,

longe das suas verdades;

Um par de arreio judiado

desses que trazem pra’os palcos,

junto às luzes multicores,

para enfeitar as vaidades!

 

Vez por outra, machucado,

tonteia alguma esperança

que ainda traz, ocupado

pelos tropeços da sina;

Mergulhando o olhar atento,

iludindo o pensamento,

namorando inatingíveis

expostos pelas vitrinas.

 

Já o vi deter a marcha

frente a uma estátua imponente,

de um vulto grande da história,

que o bronze frio perpetuou;

E ali empina as retinas

com olhos de domador,

analisando a moldura

daquele flete tão lindo:

“Padrillo”, anca redonda,

as orelhas de tesoura

e o encontro pechador.

 

Aí as lembranças voltam

ao contra-rastro da vida,

engarupando os recuerdos

de um tempo que dava gosto;

E as emoções de campeiro

vem talonear as razões,

pra alma xucra verter

pelas ladeiras do rosto!

 

Só quem tem campo na alma

pode melhor entender;

Quando a espora da saudade,

afiada de distância,

encabrestada de ausência,

ao esporear os recuerdos

o quanto pode doer.

 

Ao lerdo tranco da vida,

sem alce para os sorrisos

onde mamava a ilusão,

que arrinconou já faz muito,

pelos recantos dormidos

nos pelegos da emoção.

 

Caramba! Não há mais tempo,

de embuçalar novos sonhos

na forma das alegrias

que deixaste na querência;

- A vida apeou  saudade,

distanciou a mocidade

para encontrar tua ausência.