QUANDO A ALMA ENCILHA UM VERSO

Élson Lemos

 

Andei por tantos lugares nos labirintos da vida,

campeando estrada, distância, rumo, raiz e razão...

... juntei amigos, amores, silêncios

 e cicatrizes aos amargos

madrugueiros que me adoçam auroras

e abandonei as esporas, nalgum canto do galpão.

 

Hoje o pingo que monto é o puro sentimento

é palavra em movimento

num verso que a alma encilha,

levando várzea, coxilha, arroio, sanga, açude

ou talvez a lida rude que se estende na invernada,

numa tropa encordoada...

... sobre a folha de papel.

 

O verso que a alma encilha vai preenchendo vazios,

corre ao compasso de rio, com silencia de vertentes,

fala de amores ausentes, de sonhos e desenganos,

da historia e de momentos que a memória não apaga,

assim segue sua saga,

pela paisagem sulina inundando tantas retinas...

...cacimbas dos sentimentos.

 

No verso que a alma encilha,

corcoveia um redomão

é o bater do coração de quem gineteia a “pena”

quando a ilusão pavena peala de toda a trança

no potreiro das lembranças...

... uma saudade morena.

 

Sei que este verso me leva onde jamais chegarei,

e o sonho que sonhei, ganhou vida no papel,

descrevendo terra, céu, a noite e a lua sinuêla

ou talvez tropas de estrelas na imensidão do universo,

quando a alma encilha um verso,

o sonho sai campo à fora e vai além das porteiras.

 

E quando eu alçar a perna pra estância do infinito,

este verso, tal qual o grito de um guerreiro legendário,

ecoará pelas coxilhas e mesmo na minha ausência,

será a voz da querência, falando de amor à terra,

cruzadas de paz e guerra, saudades e solidão...

... porque o verso é uma semente

irrigada pela vertente onde flui a inspiração.

 

O verso que a alma encilha

é campo, estrada e lida, é alivio pras feridas,

é peleia por melhor sorte,

o verso que a alma encilha

é chegada, é partida, é a apologia à vida...

... que vai transcender a morte!!!