SENTINELAS

     Egiselda Brum Charão                                                     

 

Os olhos de Leandro...

São olhos luzentes

que causam inveja

aos olhos da boca-da-noite,

corujeiam ocultos...quietos,

em longas vigílias

pelos bretes da vida.

 

São pequenos relicários

- Guardiões dos tesouros do tempo -

que tempo afora

se perdem...tropeando recuerdos.

 

Os olhos de Leandro...

- Astutos de noite,

alertas de dia ! -

vigilam relíquias

que em tinta, papel

e luz de candieiro

recontam a história;

- Em Odes e Épicos

sonham mil sonhos

na vida dos outros.

 

São tristes...

Como porteiras cerradas,

encerram

cantares do mundo.

Nos montes de caixas

resguardam alheias memórias

que nem o Blau Nunes

um dia campeou...

 

Os olhos de Leandro...

- Por vezes...inquietos,

- Por outra...saudosos...

Perdem-se no corredor

onde as lembranças s'embretam.

Embaçados...troteiam

nos contos de fadas,

em cantos e crônicas

de vozes timbradas,

das vozes caladas...

num canto esquecidas.

E se espasmam

co'as rimas sofridas

que a pena encantada

rabisca sentida

moldando as retinas

na dor

doutra vida

não vivida...

 

Os olhos de Leandro...

Evocam passado

de Pátrias e Heróis

comungando vitórias

ou chorando derrotas

nos livros empoeirados

dos quais são sentinelas !

 

Teus olhos Leandro...

- São cancelas da alma

abertas neste responso. -

Cada lágrima que rola

escreve a obra mais bela

que a tropa do tempo:

(dia após dia, noite após noite)

esparrama pela terra.

 

Teu corpo...se verga,

mas estes teus olhos

são como luzeiros ao vento

que ao sopro

se vão mermando.

Reascendem-se, num upa

dos saberes de outras eras !

No pisca do vaga-lume,

no espelho da cacimba,

no verde destas campinas,

no lume dum velho candiêro,

acordando ditos fantasmas

que habitam pelas taperas !

 

Renascem

na vastidão da noite campeira,

ao tranco,

no brilho sem fim

da luz do cruzeiro !!!