RAZÕES DE LIBERDADE
Egiselda Charão
Liberdade é potro escarceando
no verde chão da coxilha,
ruflando crinas no tempo sem
jamais conhecer encilha.
É sonolento rio gemendo a serpentear o leito da terra,
constante e lento andando
varando campinas e a serra.
É soalheira nublando penas no
vôo do tahãs
e peito sangrado em saudades
do tempo passado.
É o doce amargo sorvido na
solidão das manhãs
e pungente telurismo
no fundo da alma, enraizado.
É o candieiro da Lua
prateando o campo-escampo
e vasta solidão chegando no
mais sem alarde,
são cismas avoengas ruminando
sonhos guardados,
entropilhando saudades que se
agrandam ao fim da tarde.
É o vento caborteiro, uivando
na ramada da figueira,
enquanto o mangrulho de
sentinela na imensidão bombeia
o gado alçado, que pinta os
pagos na polvadeira.
É a tarde tisnada de lumes
dourados que à noite incendeia.
É o sangue vertido nas peleias brabas dos farrapos,
miscigenando o rubro caudal
da vertente migratória,
legando coragem ao gaúcho
nessa luta feita pra guapos,
que desenhou o território
demarcado numa linha ilusória.
Simbolizando esta raça, da
Pátria mater herdados
este orgulho, este apego ao
chão e esta estampa altaneira.
Na flâmula: campo, ouro e
luta alteando sentimento
tremulam heroísmos na face ímpávida da bandeira.
Assim moldou-se a Querência,
embuçalando nos tentos,
anseios do mundo novo nesta
terra sem bandeira.
É indomável como os potros,
mais livre que o pensamento.
Foi mesclando, de uns e
outros, coragem e fibra guerreira
ungidos por ideais de igualdade
e humanidade,
somando nas urdiduras, as alegrias e desalentos
deste pampa sem fronteiras,
aos ventos da liberdade!