PIONEIRAS DO PAMPA

       Egiselda Brum Charão

 

Sendo  vindas de além-mar

elas traziam os olhos

prenhes de luz e de Lua

e do calor dos mormaços.

 

Esses olhos de promessa,

fiadores de ventura,

eram perenes ternuras

ceifadas nas cerrações

do amanhecer da campanha.

 

Olhos... cheios de mistérios,

espelhos do meu açude,

num relance cativavam

qualquer gaúcho gaudério...

 

Solitas... sobreviveram

as duras revoluções,

ruminando a sorte braba,

curando gado da sarna,

somando espera e cansaço

ao pé do fogo-de-chão,

sonhando novas quimeras,

repintando primaveras

no picumã do galpão.

 

E assim elas viviam,

batendo tábuas nas roupas,

batendo roupas na tábua

pelas taipas dos açudes,

do fogão para a lavoura,

dalí para a criação.

Na horta,  nascia tristezas

no jardim as incertezas

na sina da solidão.

 

Mas algumas dessas guapas,

que não se enleavam na lida,

desataram maneias,

soltaram amarras e travas

abriram grilhões e porteiras...

 

A tapera virou casa;

o povoado – cidade.

Sob seus olhos cansados,

nasceu este heróico Estado

e a fibra dos seus varões,

que, por amor a esta terra,

regaram de sangue o chão.

No fio do aço de adagas,

fizeram guerras

e neste vasto rincão,

ao seu olhar sereno,

esses bravos guerreiros

forjaram a nova nação.

 

Elas vieram de além-mar...