LEGADO

                                               Egiselda Charão

 

Vieram em levas de gente

apinhadas em naus que vagavam

sobre a inquietude dos mares...

Quimeras novas sonhavam

com lumes de liberdade.

Longe da guerra e da fome

irmanaram seus cantares

ao sotaque americano.

 

Aqui na terra Brasilis

aportou estranha figura

com linguajar diferente

e de olhar verde e azulado

tremulando em bandeiras

no ouro das cabeleiras

pelos campos dos Queimados.

 

Era o suíço e o alemão

fundindo a cor das culturas

ao cobre do índio nativo

nas noites de solidão,

foram bolcando a terra

em cada nova  semente

que aflorava do chão

conquistaram seu espaço

regado a suor e sangue

sob geada e mormaço.

E nas festas das colheitas

a alegria brindava sorrisos

na safra farta do grão.

 

As vozes  matriarcais

entoavam rezas noturnas...

Terços em mãos calosas

esmiuçando novenas

de joelhos no oratório.

 

Assim...

derrubando mataria

foram abrindo picadas

e erguendo moradias

à foice e machado.

Era o braço pioneiro

abrindo novos caminhos...

Era a mão semeadeira

e a força do boi no arado

para o parto das lavouras.

 

Legado ao tempo deixaria

o gemido dos moinhos

e das máquinas dos engenhos

na força das ventanias,

construtor perpetuado

pelas antigas colonias

ao sopro dos ventos de antanho.

 

Nova Friburgo

-bendito é esse teu chão

quem sem parcimonias

mesclou toda esta  raça

entre gado e plantação.

Que nas urdiduras do tempo

és a gloria e o apogeu

moldando esta geração

com sotaque europeu,

e timbra em cada canção

a força, a luta e o amor

que temperam a nação.