ITINERÁRIO DE VIDA E MORTE

Egiselda Charão

 

ANTES...

 

“Terra era  vida pulsando,

exultando tons de beleza,

numa aquarela singela,

matizando a  natureza.”

 

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Nesta planura onde os olhos

se esfumam, olhando longes,

na amplidão das distâncias,

o sol aquece a pastagem

dos crioulos que relincham

nas tardes primaveris.

 

A alma sorve as ânsias

dos invernos inclementes,

enquanto o verde esperança

vai verdeando nostalgias,

quando o doce das laranjeiras

prenuncia as invernias.

 

Então, o Sol se esparrama

num telurismo pungente,

descortinando as manhãs

em campinas verdejantes...

E o vôo da passarada,

vai pintando no infinito

sabiás, quero-queros, seriemas,

alvas garças e  joão-grandes

a ruflarem asas luzentes

num coro alado e bendito.

 

Os rios que cingem meu pago

e ceifam vida ao firmamento,

têm a mesma sina andeja

dos gaúchos da campanha.

Caudaloso e contra o vento,

num eterno vem e vai,

vão terceando destino,

rumando dolentemente

“direito” ao irmão Uruguai.

 

 

ENTÃO...

Veio o gado ... E o alambrado

rasgou o pago ao meio,

delimitando as estâncias.

Veio o imigrante... a lavoura...

E a terra chorou nas chagas

que brotaram do seu ventre

e se emprenhou das sementes

no ciclo das plantações.

 

Veio o petróleo, a estrada ...

A industria e a evolução

calando o  berro do boi,

que mugia pelos campos...

Já não rangem mais carretas

nos lançantes das coxilhas.

Na cidade,  são levas de gente

em barracos ribeirinhos,

enquanto a sorte andarilha

encilha a fera da fome,

que ronda os centros urbanos.

 

AGORA...

O progresso é trilho novo

redesenhando caminhos

com mãos avassaladoras.

A terra geme agonias

nas enxurradas e enchentes,

nas queimadas das florestas

e nos poluentes dos rios...

 

Terremotos matando gente

e guerras assolando o povo...

A terra grita nostalgias

em ciclones e maremotos,

na fome minando homens

que seguem exterminando

as primitivas nações.

 

A natureza agoniza

sob braço implacável

e hediondo da devastação!

Com tristeza neste bardo

aos filhos, pede socorro,

num brado à Preservação!