PAYADA AO SABOR DA RIMA (TEMPO E ALMA)

Dimas Costa

 

Senhores peço licença,

Licença pede atenção,

E se venho nesse refrão

Cantar do jeito que sei,

É porque eu me criei

Num tempo de romantismo,

Em que o moço, num pieguismo

Tinha tamanha ternura,

Que o verão era só brandura,

Brotada do coração.

 

Hoje parece bobagem

Cantar assim deste jeito,

Mas é que as raias do peito

É tarca riscada a fogo,

E o verso é um desafogo

Para um poeta antigo.

Sei que caio no perigo

De ser fechado de esteta

Mas a alma dum poeta

Tem recônditos profundos;

São vibrações de outro mundo,

Onde anseios espirituais,

Ressonam como rituais

De religiosa tendência,

Porque os liames da querência

São correntes de ideais.

 

Mocidade que me vê

Cantando apaixonado,

Talvez ache superado

Este modo de cantar.

É que por muito penar

Nos anseios de espírito,

Meu canto parece um grito

Ou lamentos soturnais.

 

Me entendam nesta tendência

De persistir na pureza.

Sou filho da natureza

Vim de raízes nutridas

Nos caules que brotam vidas

Aos influxos das quimeras.

Meus versos já são taperas

Com cheiro de mofo e traça,

Mas são etapas da raça

Que deixou linhas eternas,

Pra que as gerações modernas

Saibam entender outras eras.

 

Por que o verso que rimo

Faço em prelúdio antigo?

É porque o meu testigo

É um registro da Esfinge?,

Duma estampa que restringe

A pensar, pensar, pensar!

E como tudo, ao passar,

Deixa rastros de memória,

Eu sou caminho da história,

De um tempo mui singular...

 

Que estranha esta minha lira,

Tangida em tom sentimental,

Na mescla meio bagual

Das expressões corriqueiras,

Ressurgem imagens campeiras

Do Pampa Continental.

Meu verso é como um fanal

Lampejando pelo céu,

Para que o eterno emineu

Acasale a eternidade

E no cálice da saudade,

Beba respingos do céu.

 

Porque a alma é eterna,

E sabe como indicar,

O fim do eterno lugar,

Quer expandir sentimento...

No explodir pensamento

Do crânio inda pensante,

Como um dando flamejante,

Na consciência do que fica,

Sem querer, glorifica

O que o supremo conduz,

E ao que pensa logo induz

Para o etário portento.

 

Bueno: trancei trança rude,

E fiz um tento ser arte,

Agora dividam em parte

O que lhes quis repartir.

Como um tempo que há de vir,

Que só o símbolo marcará;

Quem procura estudar,

O que se diz nesta forma;

Há de achar por si a norma

De conduzir seu caminho,

Pois vem dos céus o pontinho

Para traçar uma reta;

E só a alma do poeta,

Indica em verso o chegar...