GAÚCHO NÃO CHORA

Dimas Costa

 

Isto foi em Trinta e Cinco

quando uma guerra assassina

banhava toda a campina

com sangue dos desgraçados.

Num velho rancho de palha,

junto da mãe, que chorava,

um gurizito penava,

num pobre catre. Coitado.

 

Ele era o espectro da mágoa,

chorando a triste viuvez;

Ele, o guri que há um mês

sofria- barbaridade.

era a vítima inocente

dos erros de prepotência.

Ele carpia a indigência.

Ela chorava a saudade.

 

O pobre do gurizito,

sem compreender a razão,

rebenqueava o coração

da pobre mãe que chorava.

E quando, com voz fraquita,

perguntava pelo pai,

a pobre velha, num ai,

sustentando o pranto falava.

 

Teu pai, meu filho, se foi,

para uma eterna tropeada.

Mas, não chores, não é nada,

Deus velho sabe o que faz.

O tempo passa meu filho,

e um dia talvez, quem sabe,

a guerra... a guerra se acabe

e a gente terá a paz.

 

-A paz... a paz, minha mãe?

Será que essa coisa existe?

Eu ouvi meu pai tão triste,

dizer pra mim certa vez:

-Meu filho. Esta vida é maula

tens de cuidar-te, rapaz.

mesmo que vivas em paz

te cuida de algum revez!

 

-Meu pobre pai! Eu bem sei:

caramurus” o mataram,

e, desgraçados, deixaram

eu e tu, mamãe, solitos.

Eu sou pequeno, mas juro:

que um dia, quando eu crescer,

esses malvados vão ver,

hei de mata-los, toditos.

 

-Meu filho, não te revoltes.

Estás doente... está fraquinho.

Descansa, fica quietinho,

e dorme um pouquinho, agora.

Que é isso? Estás chorando?

Mas diz-me: Não és farrapo?

Tens, entorcer, que ser guapo,

pois um gaúcho, não chora!