A LENDA E A PRENDA

Dimas Costa

 

Das raças que se fundiram

Criando a nossa feitura,

Eu tenho a fibra e o sangue

Que me faz ser uma Prenda

Pois tenho resquícios de lenda

Na minha própria figura.

 

A bugra foi a mulher

Daquela raça nativa

Que acabou sendo cativa

Do branco que aqui chegou.

E nessas paragens pampeanas

Quantos instantes sensuais

Não tiveram os ancestrais

Do homem que me gerou.

 

E nessa miscigenação

De cruzamentos selvagens,

Formou-se nestas paragens

A família primitiva.

Por isso me sinto as vezes

Encarnando a viva estampa

da mulher, filha do Pampa,

Austera, rija e altiva.

 

Quando derramo as lágrimas

Brotadas duma paixão,

E o meu chucro coração

Com emoção corcoveia;

Quem sabe se não encarno

OBIRICI a Virgem Vencida,

Que verteu lágrimas sentida

Formando o Passo da Areia.

 

Ou quem sabe se a minha alma,

Toda em fogo consumida,

Não revive aquela vida

Que morreu numa fogueira:

E minhas faces coradas

E os meus lábios de rubi,

Relembram a índia ANAHÍ,

Que é a flor da corticeira.

 

E outras bugras sacrificadas

Em holocausto ao amor,

Que hoje são rios ou são flor,

Dessas lendas do rincão,

Me deram a alma e os anseios

Pra ser a imagem rediviva

Da mulher gaúcha, nativa,

E ser Prenda da Tradição!