TROVA NO CÉU

 Derly Silva

 

O Rio Grande está de luto

O verso, a trova e a rima

E quem, um programa anima,

Fala com dificuldade

Já sentindo uma saudade

Do nosso Gildo querido

Que por Deus foi recebido

Nos pagos da eternidade.

 

O céu é que está em festa

Com cantoria e rodeio

Com pingo mascando o freio

E corde3ona resmungando

Um palco grande esperando

Quem todo mundo respeita

O velho Gildo de Freitas

Que já entra improvisando.

 

Parece que vejo os anjos

Vibrando a cada verso

Vejo o patrão do universo

Enfezado com os anjinhos

Eles todos sentadinhos

E tu cantando mais ainda

Aquela milonga linda

História dos passarinhos.

 

O Mi Maior de Gavetão

É que não vai faltar lá em cima

E aquela chuva de rimas

Saudando Nosso Senhor

Os anjos jogando flor

Toda platéia vibrando

E o verso que sai corcoveando

Da güela do trovador.

 

Eu só achei muito cedo

Daqui a tua partida

Que essa platéia querida

O Rio Grande nativista

O mundo regionalista

Já estão sentindo muito

Queriam estar sempre juntos

Desse grande repentista.

 

Mas por certo que São Pedro

Tava mal de trovador

Ou então Nosso Senhor

Ordenou ao capataz

Vai lá na terra e me traz

Mais um taura pra trovar

E tu nos leva sem pensar

Na falta que o Gildo faz.

 

Se tu já tens o Tereco,

O velho Inácio Cardoso,

Velho porém, talentoso

Tens até Garoto de Ouro

É por isso meu estouro

Vens aqui e teu lado ajeitas,

Nos leva Gildo de Freitas

O nosso maior tesouro.

 

A platéia brasileira.

A gauchada, especialmente,

Sem teu verso no repente

Até não sei se suporta

É um elo que se corta

Pelo destino perverso

E    a fábrica do verso

Fecha pra sempre sua porta.