TRAMA QUEBRADA

Cyro Gavião

 

Passando aquela porteira,

Que tem a trama quebrada

- Que, por sinal, foi trompada

Dum bagual corcoveador -

A gente sente um sabor

De flexilha e grama fina,

Que traz um gosto de china

Com poeira de corredor.

 

No lombo do pensamento,

Esbarro o pingo no freio;

Boleio a perna e me apeio,

Na porteira da invernada...

E a trama, qu’está quebrada,

E’ uma saudade partida,

Que se carrega, na vida,

Nos tentos duma tropeada.

 

Eu passo e fecho a porteira,

Deixando a trama pra trás,

Lembrando que o capataz

Recomendava a volteada:

- Não quero que fique nada.

mangueando a trotezito,

Pra que esse gado bonito

Não vá se alçar, na invernada.-

 

Eu campereio a saudade,

Sentindo o peso do jugo...

Só vejo, agora, o refugo,

Nas canhadas da tristeza...

A vida é uma correnteza,

Que lembra a “Sanga d’Aguada”,

Rolando sempre calada,

Nas dobras da natureza.

 

Foi aqui, velha invernada,

Que amadrinhei meu destino,

Pealando, desde menino,

Os sonhos duma ilusão...

Eu tinha a tava na mão,

Na cancha larga da vida...

Mas, copei banca perdida,

Nas ânsias do coração.

 

Eu volto e fecho a porteira,

Deixando a trama pra trás,

Lembrando que o capataz

Recomendava a volteada...

Mas, já no fim da jornada,

Como um pedaço da vida,

Só vejo a trama partida,

Nos tentos desta tropeada.