SÊCA BRABA

Cyro Gavião

 

Era uma tarde de seca e de sol quente!

Já nem serviço sequer pr’ aquela gente

Que enchia o galpão, e ao fogo ateava lenha.

O mormaço galopeava na coxilha;

Por entre o gado, troteava uma novilha

Que, por mais viçosa, já se achava prenha.

 

Era uma tarde de seca e de sol quente!

Parecia até Deus onipotente,

Esquecendo o velho pago e a querência,

Não via a terra chorando a própria mágoa;

O pasto torrado, a sanga já sem água

E o guasca vencido a lhe pedir clemência.

 

Era uma tarde de seca e de sol quente!

Até o velho quero-quero estava ausente,

Qual “sentinela” covarde que deserta.

Mas, o céu, como a novilha, então, se emprenha;

Embarriga e ameaça que despenha...

E leva consigo a chuva que era certa.

 

Era uma tarde de seca e de sol quente!

Na charqueada de esperanças - que é o poente -

Morria a tropa do guasca que não cansa...

Eu sinto a seca e a chuva que passou.

E é por isso que, na vida, sempre eu vou

Repontando minhas mágoas pra balança.

 

Era uma tarde de seca e de sol quente!...